segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Aquele abraço


Sim, já tive o privilégio de abraçar um golfinho. Foi um momento emocionante por dois motivos: o primeiro porque o treinador dele obviamente fez um comando para ele se chegar a mim.

 E o golfinho me abraçou conforme esperado, mas veja bem: só a mim. 

Não o fez, ao sinal do mesmo comando, com as demais pessoas que ali se encontravam. Simplesmente não quis. Não rolou uma empatia, chame do que quiser. O treinador disse que era assim mesmo: este golfinho em particular só se aproximava de quem ele queria. 

Em suma, tinha vontade própria - não era como tantos pobres mamíferos marinhos que existem aos montes em Cancun, Miami ou afins, que simplesmente obedecem mecanicamente tudo em troca de uma apetitosa sardinha. 

Até um dia surtar de vez e se suicidar se lançando contra o muro de concreto do respectivo tanque, como lamentavelmente aconteceu com a enclausurada famosa baleia orca, Shamú. 

Mas este não. Tratava-se de um golfinho com atitude, que residia num parque aquático decrépito de Varadero, Cuba. 

Talvez por isso não tenha perdido totalmente sua identidade, já que o local em si era desprovido de muita infraestrutura e localizado no meio de um lago enorme de água salgada, o que conferia a seu ambiente um clima mais selvagem. 

Enfim, ele não me pediu nenhuma iguaria em contrapartida pela acolhida concedida gratuitamente; pelo contrário, nessa ocasião ocorreu o segundo fato tocante de tal raro encontro: ele ainda fez questão de "catar" na água o primeiro apetrecho que considerou ser um belo souvenir, e me presenteou com ele - uma folha seca de uma árvore que se encontrava boiando. 

A empurrou com o seu focinho anatômico até a minha direção, entoando aquela delícia de gargalhada típica de golfinho, para indicar que a lembrança era especificamente para mim. 

Aturdida, a retirei da água com todo o cuidado, e agradeci, fazendo um carinho na sua cabeça, com um sorriso estampando de uma orelha à outra, pelo gesto que considerei ser divino. 

E então ele se retirou, nadando alegremente. 

Guardo até hoje essa folha, como um amuleto. 

E foi definitivamente nesse dia que passei a acreditar que anjos - de todos os tipos - existem. É só deixá-los abraçar a sua alma.

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