sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A honestidade nossa de cada dia

Quem é humilde, não necessariamente é honesto. Outro dia desses assisti a um vídeo em que um cego simulava comprar determinados produtos em uma feira qualquer, e o objetivo da gravação era testar a honestidade das pessoas. Fiquei chocada com o fato de dois feirantes, em três que foram alvos de tal registro, terem falhado, com louvor, na referida prova de caráter. O cego primeiramente chegou em uma das barracas e ordenou, com toda educação, uma empada. A senhora, de aparência humilde e serena, disse que o quitute em questão custava R$ 2,00. Em retorno, o cego prontamente sacou da sua carteira uma nota de R$ 20,00, indagando à vendedora se a nota era de R$ 2,00. A senhora, depois de cuidadosamente olhar para os lados, de modo a averiguar se alguém poderia a estar vigiando, respondeu placidamente que "sim". Então pegou a nota do cego e entregou a empada, em troca. Sem qualquer tipo remorso no seu semblante. No segundo caso, o vendedor chegou a dar algum troco para o cego pela venda de sua mercadoria, mas, não o suficiente; o correto. Ele também enganou o cego. Sem arrependimento. Já no terceiro e último caso, o cego pretendia comprar uma gravata. O ambulante esclareceu que ela custava R$ 10,00. O cego imediatamente entregou uma nota de R$ 50,00 para o vendedor e declarou, com um belo sorriso estampado no rosto: "_Pronto, amigo. Tome aqui os seus dez reais." O rapaz da barraca não hesitou nem um segundo em retrucar: "_Meu senhor, você me deu uma nota de cinqüenta reais. Então estou te dando de troco, duas notas de vinte reais, tá OK?". O pessoal que estava realizando a gravação em questão interrompeu o vídeo por alguns segundos - talvez para os telespectadores digerirem com calma o que havia acontecido - e voltaram, em seguida, com uma outra cena em que o cego aparecia parabenizando o vendedor pela sua franqueza, após ter revelado que a cena tinha sido registrada em câmera. O aclamado, então, herói, respondeu o óbvio: "que não fez nada além da sua obrigação". Sim, ele é um daqueles casos que nos fazem acreditar que o mundo não está totalmente perdido. Daqueles que a humildade anda de mãos dadas com a honestidade. Mas, gente, por que devemos ovacionar esse tipo de conduta, se ela é mais do que obrigatória, imprescindível? Você pode enganar a todos, mas, nunca, a si mesmo. A sua consciência e a sua memória sempre serão cúmplices, porém, testemunhas ocultas das suas fraquezas. E a sua cabeça vai acabar, em algum momento, pesando - de culpa, desgosto - no travesseiro. Como diria a eterno e admirada ícone da moda, Coco Chanel, "O luxo não é oposto da pobreza, mas sim da vulgaridade". E não existe nada mais vulgar do que ser mau-caráter. Seja em que condição social for.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O Desperdício que é o Brasil


Em todos os sentidos. O Brasil poderia ser o melhor país do mundo. Possui as mais belas paisagens e mulheres; o povo mais hospitaleiro de todos;  uma gastronomia de dar água na boca; um carnaval notoriamente conhecido globalmente. “Yes, nós temos bananas”, como diria João de Barro, para dar e vender. Não mais a preço de banana, mas a preço de caviar. Está caro morar aqui, não por menos, estamos pagando a conta daqueles que gastam o nosso orçamento em despesas superficiais  a exemplo do absurdo “auxílio terno”, sem terem sequer se dado ao trabalho – o que não é novidade, pois de “trabalhador” mesmo, só o nome do partido - de abrir um plebiscito para saber se eu realmente gostaria de gastar parte do dinheiro público, que sai, by the way, do meu bolso, para entrar no bolso de quem até pode vestir um Armani para tentar impor um certo respeito, mas que acaba perdendo todo o meu respeito, ao enfiar os dólares provenientes de lava-jatos e propinodutos, na sua cueca Calvin Klein. O pulmão do mundo, a nossa compartilhada - com os gringos - Amazônia, brevemente precisará de um transplante. O Brasil desperdiça talentos, por falta de investimento; água, por falta de conscientização; e, dinheiro, por falta de vergonha na cara. Do povo. Sim, do povo, pois ele é total responsável por colocar nossos políticos sanguessugas em Brasília. Basta oferecer uma dentadura nova, uma camiseta estampada, ou uma cesta básica abarrotada, para o leilão dos votos começar. Mas a culpa é exclusivamente da gente? Ou da doença que acomete o Brasil há anos: a corrupção? Aquela que segue à risca o princípio do “farinha pouca, meu pirão primeiro”? Ou, será, que todas essas ações vexatórias e inescrupulosas deram início com o tipo de colonização “ora, pois, pois” exploratória que tivemos?  Difícil saber, assim como quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Só sei que o nosso ovo tá podre e a nossa galinha depenada. Não temos educação, pois um povo ignorante acaba virando “vaquinha de presépio” dos presidentes Mulas da vida, que veem a oportunidade de comprar todas as urnas, ao distribuir peixes ao invés de varas de pescar. Acho hilário como para ser  médico, advogado, engenheiro, tem que ser formado, ter um diploma. Todas essas profissões cuidam direta ou indiretamente da vida de pessoas. Já o presidente deste País, que supostamente tem a incumbência de tomar conta de toda uma nação, não precisa ter o mínimo de grau de instrução. Então tudo vira um triste ciclo-vicioso: quem não tem educação, não educa, por sua vez, os seus respectivos filhos. Crianças, com todo potencial para se tornarem líderes, acabam virando reles malabaristas de ruas pedindo esmolas, isso quando não resolvem se debandar para o caminho fácil do tráfico ou do roubo – a mão armada. A sociedade falhou com eles, e os pais deles também. Nessas horas sinto-me numa savana africana, onde cada bicho tem que se defender da maneira que pode, mas até os animais protegem os seus bandos com mais dedicação e cuidado, que os humanos. Aqui no Brasil, não muito diferente das lamentáveis guerras que acontecem na Síria, e que são divulgadas ostensivamente, em âmbito mundial, enfrentamos um caos diário ofuscado, abafado convenientemente pela mídia, vulgo, "Quarto Poder". Tenho medo de circular de carro com meu filho, e acontecer o pior. Tenho medo de ficar em casa, e acontecer o pior. Tenho medo de ir para uma festa qualquer na noite carioca, e acontecer o pior. Tenho medo de pedir ajuda para um policial, pois não sei o que é pior: lidar com um bandido mascarado ou ficar na companhia de um bandido escancarado. E como tudo aqui acaba em pizza, com sabores que variam desde a frustração à impunidade absoluta, só nos resta rezar para não estarmos na hora errada e no local incorreto, à margem do mal escondido, pronto para atacar. Já tive orgulho de ser brasileira. Hoje me considero uma apátrida, me divorciei do Brasil, na vibe do filme "Bye, bye, Brasil". Pois o Brasil nos abandonou. E a única luz que vejo no fim do túnel, é a do Aeroporto Internacional Tom Jobim. Se ainda tiver lugar para mim.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Inveja Colorida



Uma vez ouvi dizer que sentir inveja é nada mais do que reconhecer os seus próprios fracassos nos outros. Achei essa colocação um tanto radical e unilateral. Ora, pois, se assim fosse, não existiria o conceito de “inveja branca”. Aquela que espalharam por aí ser o “café com leite” das invejas. Aquela que você pode sentir sem ser condenado a um dos sete pecados capitais, já que predispõe mais uma admiração enrustida, do que um sentimento de desejo de possessão de propriedade alheia, propriamente dita. Creio que a inveja é colorida: existem diversos tons de inveja que variam desde a pessoa ter demasiada ganância ao ponto de passar por cima de tudo e de todos para conquistar o seu objetivo, até aquela já mencionada Suíça das invejas - a translúcida inveja branca. A que você sente de boa, sem qualquer tipo de sentimento ruim ou sombrio atrelado a tal sensação. E é nesse tipo de inveja que os meus anseios sempre se enquadraram. Nunca invejei ter aquele carro de luxo de fulana, ou aquele sapato italiano de sicrana. Nem quis ser dona daquela casa de praia naquela ilha isolada e paradisíaca de beltrano. Nem possuir aquele cargo de CEO de uma multinacional de renome qualquer. A minha inveja sempre foi apaixonada por atitudes ousadas, do bem. Invejo aquele surfista que viaja pelo mundo desbravando as mais belas praias que existem, em busca da onda perfeita.  Invejo a felicidade pura, despreocupada e cândida das crianças. Invejo o senso de companheirismo e de lealdade de um peludo – amigo de verdade - canino. Invejo gente que sempre arranja um tempinho para encontrar pessoas queridas, mesmo com a falta de tempo. Invejo como as patinadoras parecem anjos flutuando na pista de gelo, ao dançarem leves, o seu ballet, como um cisne branco. Invejo aquelas pessoas que se portam como crianças – na hora da brincadeira. Certamente são adultos muito mais criativos, divertidos e bem-sucedidos. Invejo os denominados “últimos românticos” – se é que eles efetivamente existem – e que não deixam a rotina matar o Don Juan que lhes é inerente, se dedicando a conquistar todos os dias, a mesma pessoa. Invejo os que acertaram aqueles seis mágicos números da Mega-Sena, não por terem ganhado instantaneamente, a la Nissin Miojo, milhões de moedas na sua conta bancária, mas, muito mais pelo fato delas não terem mais que se preocupar com questões financeiras pelo resto de suas eternidades. Dinheiro não é tudo, mas, nesse caso, representa aparentemente menos um problema para ser enfrentado na loteria que é a vida. Invejo todos os indivíduos que moram na Austrália, o melhor país do universo, uma espécie de Brasil que deu certo. Invejo pessoas que se vestem da forma que bem entendem, que comem tudo que sentem vontade sem sentir culpa, e que agem em conformidade com o que falam e o que pensam, sem se importarem com o que a crítica, e muitas vezes hipócrita, sociedade prega. Invejo os gênios que sabem o quão o seu QI é elevado, mas mantêm-se humildes na sua absoluta sapiência ao lado de eventuais iletrados. Invejo aqueles que são verdadeiras personificações de Gandhi ou Dalai Lama, e que conseguem agir com respeito, calma e tranquilidade, mesmo se imersos no caos total. Invejo aqueles que têm orgulho do seu trabalho, independente do que fazem. Invejo os que vieram do nada e criaram, com honestidade e dedicação, o seu próprio grande ou pequeno império. Invejo aquelas pessoas que chegam ao ponto de se descuidarem, para cuidarem de outras vidas que definitivamente precisam de muita atenção. A minha inveja aplaude de pé as iniciativas e os trabalhos dos Médicos sem Fronteiras, Doutores da Alegria, do Greenpeace e das ONGs em geral que efetivamente mantêm o seu caráter primordial de tentar tornar o mundo, um melhor lugar para se viver, “sem fins lucrativos”.  Para mim, sentir inveja é reconhecer nos outros as suas próprias ambições. Aquelas que você não teve força, sorte ou coragem para seguir adiante, em algum momento da sua vida.  Até agora.

sábado, 5 de setembro de 2015

Infinita música


                                                     Sempre fui fascinada por música. Não que eu menospreze outros tipos de artes, pelo contrário, ovaciono e admiro de tudo um pouco, mas, acho incrível como do silêncio, basta uma nota musical acompanhar a outra numa partitura de anseios, ritmos e sequências, para uma música ser produzida diretamente do vácuo do forno do pensamento, e se propagar nos ouvidos de indivíduos sedentos por um show íntimo para a alma. Ou para a sanidade, dependendo da extensão da sede em questão. Desde que me entendo por gente, ouvia os meus pais deixarem a casa transbordar com infinitas melodias, pelos cômodos adentro. Elas variavam desde a voz aveludada e envolvente do Frank Sinatra até o som empolgante e sensual dos Rolling Stones, embalados pelas cifras revolucionárias do saudoso Michael Jackson. Estamos falando aqui dos anos 80, onde vivi a maior parte da minha infância. Que época mais sensacional e criativa! A fruta proibida, a maçã da tecnologia, deu o ar da sua graça. Um ator é eleito presidente do país mais influente do mundo. Surge o Rock in Rio. O E.T. pedala a sua bicicleta voadora sob a luz da gloriosa lua cheia, ao som de uma orquestra  comovente. E a Barbie se torna uma referência – irreal – de padrão de beleza mundial. Então adentramos nos anos 90, outra época espetacular para quem aprecia música: aqui nasceram bandas vangloriadas até hoje. Continuam recentes, mesmo mais de vinte anos depois. Música, com raríssimas exceções a exemplo da Lambada, não perde o prazo de validade. Quem dessa geração não balançou insanamente a cabeça  ao som do clip do “Smell Like Teen Spirit” do Nirvana, ou do “Give it Away” do Red Hot Chili Peppers? Quem nunca ligou para o “Disk MTV” ou para a “Rádio Fluminense FM” para pedir a sua música favorita? Levante a mão quem nunca escutou músicas cafonas como “Rush, Rush” da Paula-plastificada-Abdul, ou “Ice, Ice Baby” do protótipo-baby de Enimem, Vanilla Ice? Os vampiros também bombaram nessa fase, com filmes marcantes do gênero como “Garotos Perdidos, “Dracula” (do Coppola) e “Entrevista com Vampiro”, onde o Tom Cruise e o Brad Pritt não têm absolutamente nada de monstro, se comparados àquele que teoricamente viveu na Transilvânia.  Ah, e a cômica novela “VAMP”? Fiquei calada na noite preta, ao acompanha-la do início ao fim. Foi a única novela que assisti desde “Vale Tudo”, certamente a melhor de todas. Nada explicaria com maior riqueza de detalhes sórdidos o Brasil de ontem, de hoje e de sempre, onde realmente vale tudo, na voz explosiva de Gal Costa. E está caminhando para não valer sequer um tostão, do jeito que as coisas vão. Hoje só perco o meu tempo, quando é o caso, assistindo seriados, filmes e documentários da TV a cabo, que, aliás, apareceu por aqui nesse período também, onde, talvez somente existissem quatro emissoras em todo o exíguo universo do canal aberto. Isso quando o Bombril da antena da TV conseguia mantê-las livres de imagens distorcidas, dentro da frequência correta. Mas voltando ao assunto do post, atravessamos com louvor o polêmico “bug do milênio”, sem o mundo acabar - pausa para a macabra música da clássica cena da facada no chuveiro, do filme “Psicose” do Alfred Hitchcock. Ufa! Foi por pouco, segundo previsões apocalípticas mil... Então aterrissamos, vivos, seguros e esperançosos de um futuro melhor, no ano 2000. Jurava que quando chegasse aqui iria ver carros voando pelo ar como em “De Volta para o Futuro 2”, mas mudaram as estações e nada mudou, como declarou Renato Russo em uma de suas canções, "A Quatro Estações". Já a internet, algo que parece uma utopia se descrita em palavras, fincou definitivamente o seu pé virtual nos meios sociais, que passaram a ser denominadas  redes sociais, e tudo virou uma imensa salada cibernética de kbytes, megabytes e gigabytes, temperada com  salas de bate-papos diversas, selfies, arquivos, tudo, digital. Você consegue comprar  qualquer música, de qualquer banda, de qualquer lugar do mundo, com qualquer cartão de crédito, em um só click. Tudo, de acordo com o seu humor do dia. Tá feliz? Com vontade de dançar? Compra um house, e enche a casa de alegria com as coreografias da Beyonce. Tá revoltado? Querendo xingar o mundo? Não faça isso! Compre um heavy metal para canalizar a raiva enrustida. Tá triste pra cacete, levou um corno? Compre um pagode bem brega para apaziguar os ânimos enfraquecidos, machucados. Em se tratando de música, gosto não se discute. Ela veste de acordo com a indumentária emocional de cada um. E a minha é uma trilha sonora.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Presente agora


Dizem que o paraíso remete a uma pintura impressionista de um jardim bem colorido, ao estilo Monet.  Que lá é esplêndido, todos são felizes e que emanam uma luz incandescente de energia positiva infinita ao seu redor. Que só há amor. Não existe qualquer tipo de dor. Animais correm ao ar livre, sem se preocupar em serem caçados; as florestas são preservadas, e todas as gramas, não só a do vizinho, são mais verdes. Enfim, tudo é perfeito. Por outro lado, aqui embaixo - e não estou me referindo ao inferno, embora do jeito que as coisas andam ruins, daqui a pouco chegaremos lá - tudo é diferente. Pode não ser tão bom como no caminho das nuvens celestiais, mas tampouco é ruim. Mesmo que tudo fosse maravilhoso, você há de convir que sempre haveria um sujeito “dedo podre” que apontaria algo de negativo no que talvez não exista. Pois é inerente ao ser humano reclamar de tudo: da vida, do salário, da saúde, da comida, das pessoas... Não adianta você tentar elaborar aquele trabalho impecável, organizar aquela festa fantástica, convidar para aquele jantar apetitoso: dificilmente irá agradar a todos. Se nem Cristo conseguiu. Quem dirá você.  Deve ser algum fator genético de rabugice crônica que nos acomete involuntariamente. Não leve para o lado pessoal, nem gaste seu dinheiro em terapia para tentar entender essa insatisfação crônica da humanidade. É o tipo de característica que não seguirá o curso natural da cadeia de evolução pregada por Darwin. Acha que acabou? Além dessas pessoas que teimam em bombardear com críticas nada construtivas, ainda existem aquelas que têm a empáfia de colocar a  culpa de serem assim ou assado, ou de terem passado por isso ou por aquilo, exclusivamente nos outros. Sabe daquele tipo de indivíduo que vive na negação ou sempre é vítima? Não passa pela cabeça da criatura que a vida lhe foi dada de presente para ela viver o agora da maneira que bem entender, sendo certo que as opções seguidas poderão sim resultar em feridas não cicatrizadas por inteiro, que possivelmente afetarão o futuro, por inteiro. Mas, isso, veja bem, se a pessoa em questão assim desejar, permitir. Sim, pois, atenção galera, nós somos os donos do “agora”. No final da nossa jornada, é que veremos se iremos acertar as contas diretamente com o Todo Poderoso ou com o Belzebu. Há outro grupo, os dos letárgicos, que resolvem seguir adiante como zumbis, apenas esperando a vida que consideram ser sem graça, passar, cinza, lenta, como um fantasma flutuando num quarto mal-assombrado, pela sua frente. A beleza vem de graça ao encontro dos olhos de qualquer espectador. Mas, infelizmente, as almas desses indivíduos não conseguem enxerga-la; são absolutamente cegas. E, pasmem, justamente esses - que não dão a mínima - serão aqueles que possivelmente viverão cem anos. Talvez seja a vida dando a eles uma chance mais longa para ver se um dia a ficha da gratidão cai nas suas cabeças. Já, sob outra ótica, o que os filmes “Lado a Lado”, “Antes de Partir”, “Os Intocáveis” e “O Escafandro e a Borboleta” têm em comum? A doença terminal, a compaixão, o companheirismo, a realização – chocante - da mortalidade.  Por que são narrativas que mexem tanto com os nossos sentimentos? Pois viramos testemunhas daqueles que sabem que a sua vida foi encurtada ou limitada por alguma razão inevitável qualquer, e que ao invés de se entregarem para a “pseudo-morte-imediata” que lhes foi imposta pelo destino, decidem viver tudo que for possível – com qualidade - dentro dos últimos dias, horas, minutos e segundos que lhe restam. Então passam a ignorar balelas, pequenos problemas do cotidiano que antes levavam tão a sério. Tornam-se pessoas mais leves, serenas e gratas. E estão certas, não se importam se a grama do vizinho é mais verde. Cuidam, com apreço, do seu próprio Jardim do Éden. Do seu pedacinho de paraíso provisório, aqui embaixo. Se há algo que temos certeza nessa vida é que iremos morrer. Então se você soubesse hoje a data exata da sua partida, não se presentearia com um melhor "agora"? Por que deixar para depois... Para o paraíso lá de cima?

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Insônia


Nunca subestime o poder  da insônia. Diferentemente do que a sua sonoridade sugere, se hipoteticamente pronunciada em inglês ("In-somnia"), ela não habita somente as "Sonias", mas, também, as Silvias, Marianas, os Josés, Joãos da vida. Se até o Al Pacino sofreu com essa praga no agonizante filme "Insônia", ao ser incumbido de passar alguns dias no papel de um policial investigando um determinado homicídio numa inóspita região do Alasca, quem sou eu, pobre mortal, para ter a ousadia de me excluir da lista desprivilegiada dos potenciais insones? Quando a insônia resolve despertar, amigo, diga adeus ao seu sono, até então, tranquilo e profundo, digno de participação como protagonista nos comerciais de colchões anatômicos confeccionados por astronautas da NASA.  Ao menos nas próximas oito horas consideradas como ideais e imprescindíveis para se manter o sono da beleza em dia, a sua noite se transformará na "Hora do Pesadelo" - e o pior, com você totalmente acordado -  sem direito a brincar no parquinho com o Freddy Krueger, como no filme. Sempre desdenhei a insônia, considerava-a uma espécie de lenda urbana noturna, até que numa madrugada qualquer acabei sendo vítima de seu impiedoso ataque. Uma lâmpada imaginária se acende, e você não consegue desligá-la. E a conta não sai barata para o seu cérebro, que perde a conta de quantos carneirinhos pularam a cerca. Então as ovelhas caem no abismo dos seus pensamentos que se transformam num mar revoltado com ondas magnéticas tão gigantes que fariam qualquer surfista big rider amarelar. Não existe nada pior do que rolar de um lado para o outro numa cama convidativa, com o corpo exausto e o seu cérebro totalmente ativo. Você cerra os seus olhos, mas como nos desenhos animados cômicos, suas pálpebras parecem desenrolar ligeiramente para cima, como cortinas Luxaflex com defeito. A sua mente insiste em te dizer: "_Tô cansada! Quero dormir!", mas aquela região do seu cérebro atrelada à audição parece não escutar os apelos dramáticos da sua vizinha, a parte emotiva do cérebro. A insônia é má e gosta de silêncio, cortando imediatamente qualquer canal de comunicação existente dentro de si. Para a fome, basta comer que ela passa. Se você tá se sentindo sujo, toma um banho, que tudo fica limpo. Já para a insônia, invasiva e arrebatadora do jeito que é, só sendo nocauteado por um faixa-tarja-preta para apagar mesmo.



terça-feira, 1 de setembro de 2015

Bota fora de conteúdo



Sinto prazer em escrever. Gozo ao falar. Tenho múltiplos orgasmos quando alguém me lê.
Consegui chamar sua atenção? Que bom. Essa era minha intenção.
Sempre soube que meu negócio seria algo voltado para a verbalização.
Pois ciência exata, números e padrões rotineiros de comportamento não se criam dentro de mim. 
Já a comunicação, criatura, parece ter vida própria dentro dessa caixola tingida que vos fala. 
Tudo me inspira a escrever. Inclusive  você. 
Talvez por portar uma necessidade quase existencial em exteriorizar o que penso, somado ao fato de carregar no âmago um extenso senso de justiça, resolvi apostar numa carreira que teoricamente se enquadrasse em tais parâmetros...
Logo eu que sempre fui alucinada por animais e amava desenhar... O escolhido da ocasião foi? Direito! Palmas para ela, minha gente, mais uma “Legalmente Loira” no bonde descarrilhado da prática jurisdicional.
Foi nesse ambiente de máscaras exibidas à base de muita vaselina na conduta, que aprendi como a aparência fala mais alto.
A despeito de todo preconceito inicial sofrido, acredite se quiser: essa "loira" bronzeada, tatuada, já conseguiu conquistar muito espaço no hostil ambiente corporativo jurídico.
Agora, pretendo chegar nesse mesmo status no mercado literário. 
Me aguardem.
Sabe como? #ficaadica
Foque em desempenhar com profissionalismo, comprometimento e dedicação trabalho.
#sejavoce .
Nunca se deixe abater por críticas de quem não conhece nem quer saber a respeito da [sua] verdade.
#vaipormim :
Seu esforço será reconhecido e elogiado até pelos mesmos que antes o criticaram e o subestimaram.
#acredite :
Com o tempo, as máscaras caem. A verdade vence. 
Sim, claro... A imagem pode até falar mais alto. 
Mas conteúdo? Grita. E fica.