Dizem que o paraíso remete a uma
pintura impressionista de um jardim bem colorido, ao estilo Monet. Que lá é esplêndido, todos são felizes e que
emanam uma luz incandescente de energia positiva infinita ao seu redor. Que só
há amor. Não existe qualquer tipo de dor. Animais correm ao ar livre, sem se
preocupar em serem caçados; as florestas são preservadas, e todas as gramas, não só a do vizinho, são mais verdes. Enfim, tudo é perfeito. Por outro
lado, aqui embaixo - e não estou me referindo ao inferno, embora do jeito que as
coisas andam ruins, daqui a pouco chegaremos lá - tudo é diferente. Pode não
ser tão bom como no caminho das nuvens celestiais, mas tampouco é ruim. Mesmo que tudo fosse maravilhoso, você há de convir que sempre haveria um
sujeito “dedo podre” que apontaria algo de negativo no que talvez não exista. Pois
é inerente ao ser humano reclamar de tudo: da vida, do salário, da saúde, da
comida, das pessoas... Não adianta você tentar elaborar aquele trabalho
impecável, organizar aquela festa fantástica, convidar para aquele jantar
apetitoso: dificilmente irá agradar a todos. Se nem Cristo conseguiu.
Quem dirá você. Deve ser algum fator
genético de rabugice crônica que nos acomete involuntariamente. Não leve para o lado pessoal, nem gaste seu dinheiro em terapia para tentar entender essa insatisfação
crônica da humanidade. É o tipo de característica que não seguirá o curso natural da cadeia
de evolução pregada por Darwin. Acha que acabou? Além dessas pessoas que teimam
em bombardear com críticas nada construtivas, ainda existem aquelas que têm a empáfia de colocar a culpa de serem assim ou assado, ou de terem
passado por isso ou por aquilo, exclusivamente nos outros. Sabe daquele tipo de indivíduo que
vive na negação ou sempre é vítima? Não passa pela cabeça da criatura que a
vida lhe foi dada de presente para ela viver o agora da maneira que bem
entender, sendo certo que as opções seguidas poderão sim resultar em feridas
não cicatrizadas por inteiro, que possivelmente afetarão o futuro, por inteiro.
Mas, isso, veja bem, se a pessoa em questão assim desejar, permitir. Sim, pois, atenção
galera, nós somos os donos do “agora”. No final da nossa jornada, é que
veremos se iremos acertar as contas diretamente com o Todo Poderoso ou com o
Belzebu. Há outro grupo, os dos letárgicos, que resolvem seguir adiante como
zumbis, apenas esperando a vida que consideram ser sem graça, passar, cinza, lenta, como um fantasma flutuando num quarto mal-assombrado, pela sua
frente. A beleza vem de graça ao encontro dos olhos de qualquer espectador. Mas, infelizmente, as almas desses
indivíduos não conseguem enxerga-la; são absolutamente cegas. E, pasmem, justamente esses - que não dão a mínima - serão aqueles que possivelmente viverão
cem anos. Talvez seja a vida dando a eles uma chance mais longa para ver se um
dia a ficha da gratidão cai nas suas cabeças. Já, sob outra ótica, o que os filmes “Lado
a Lado”, “Antes de Partir”, “Os Intocáveis” e “O Escafandro e a Borboleta” têm
em comum? A doença terminal, a compaixão, o companheirismo, a realização – chocante
- da mortalidade. Por que são narrativas
que mexem tanto com os nossos sentimentos? Pois viramos testemunhas daqueles que sabem que a
sua vida foi encurtada ou limitada por alguma razão inevitável qualquer, e que
ao invés de se entregarem para a “pseudo-morte-imediata” que lhes foi imposta pelo
destino, decidem viver tudo que for possível – com qualidade - dentro dos
últimos dias, horas, minutos e segundos que lhe restam. Então passam a ignorar
balelas, pequenos problemas do cotidiano que antes levavam tão a sério.
Tornam-se pessoas mais leves, serenas e gratas. E estão certas, não se importam
se a grama do vizinho é mais verde. Cuidam, com apreço, do seu próprio Jardim do Éden. Do seu pedacinho de paraíso provisório, aqui embaixo. Se
há algo que temos certeza nessa vida é que iremos morrer. Então se você soubesse
hoje a data exata da sua partida, não se presentearia com um melhor "agora"? Por que deixar para depois... Para o paraíso lá de cima?
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