sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Vida virtual

Lembra de como éramos antes das redes sociais?

A única opção existente para conhecer alguém, era falar ao telefone ou se encontrar.

Fisicamente.

Dava mais trabalho, mas assim se formavam relações sólidas, eternizadas pelo tempo.

Éramos apresentados à pessoa, aos poucos.

Sem filtros.

Com espinhas na cara, quilos a mais.

Não sabíamos sua condição financeira, nem que restaurantes frequentava, ou suas preferências artísticas.

Pois o que tínhamos à disposição era o íntimo da pessoa a ser lentamente descoberto.

Que organicamente acabou por se conectar ao nosso através de energia e experiências trocadas de forma rotineira.

Com o surgimento das redes sociais, criou-se um divisor de águas.

O que antes era retratado apenas em diários abarrotados de citações aleatórias, fotos entre amigos e confissões de adolescentes; escritas imortalizadas compartilhadas apenas com amigos próximos - se compartilhadas;

Hoje? Tudo é escancarado.

Sabemos de pronto tudo o que a pessoa "tem": quantidade de seguidores, locais que frequenta, o que compra.

Mas o que "é" de verdade?

Nunca descobriremos.

Pois como num conto de fadas, as postagens sempre têm final feliz.

Conquistas alcançadas,

Amores correspondidos,

Amigos para dar e vender.

Virtualmente é imbatível, em matéria de sucesso.

Como é bom se refugiar nesse local mágico.

Até se lembrar que existe uma vida real. Onde a moça que perde o sapato na pista de dança à meia noite não se trata de uma princesa; apenas estava bêbada.

E na manhã seguinte? Vai acordar com uma baita enxaqueca, olheira, e um pé de sapato a menos.

Dura realidade viver de verdade. 

Mais fácil se esconder por trás do avatar virtual, criado para ser perfeito, com #tagsforlikes, algo socialmente aceitável pedir "likes"como espécie de esmola virtual.

E assim, afagar o nosso baixo estimado ego com curtidas digitais que nos fazem sentir mais queridos. 

Ainda que virtualmente.

E é aí que mora o perigo: a nossa vida virtual se tornar mais atraente e onipresente que a vida real.

Ainda prefiro o tempo do olho-no-olho,

Estando presente ao viver o presente,

Da ferida que se cura com um abraço apertado.

Onde pessoas são o que efetivamente são: reais.

#euarenata


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