Lembra de como éramos antes das redes sociais?
A única opção existente para conhecer alguém, era falar ao telefone ou se encontrar.
Fisicamente.
Dava mais trabalho, mas assim se formavam relações sólidas, eternizadas pelo tempo.
Éramos apresentados à pessoa, aos poucos.
Sem filtros.
Com espinhas na cara, quilos a mais.
Não sabíamos sua condição financeira, nem que restaurantes frequentava, ou suas preferências artísticas.
Pois o que tínhamos à disposição era o íntimo da pessoa a ser lentamente descoberto.
Que organicamente acabou por se conectar ao nosso através de energia e experiências trocadas de forma rotineira.
Com o surgimento das redes sociais, criou-se um divisor de águas.
O que antes era retratado apenas em diários abarrotados de citações aleatórias, fotos entre amigos e confissões de adolescentes; escritas imortalizadas compartilhadas apenas com amigos próximos - se compartilhadas;
Hoje? Tudo é escancarado.
Sabemos de pronto tudo o que a pessoa "tem": quantidade de seguidores, locais que frequenta, o que compra.
Mas o que "é" de verdade?
Nunca descobriremos.
Pois como num conto de fadas, as postagens sempre têm final feliz.
Conquistas alcançadas,
Amores correspondidos,
Amigos para dar e vender.
Virtualmente é imbatível, em matéria de sucesso.
Como é bom se refugiar nesse local mágico.
Até se lembrar que existe uma vida real. Onde a moça que perde o sapato na pista de dança à meia noite não se trata de uma princesa; apenas estava bêbada.
E na manhã seguinte? Vai acordar com uma baita enxaqueca, olheira, e um pé de sapato a menos.
Dura realidade viver de verdade.
Mais fácil se esconder por trás do avatar virtual, criado para ser perfeito, com #tagsforlikes, algo socialmente aceitável pedir "likes"como espécie de esmola virtual.
E assim, afagar o nosso baixo estimado ego com curtidas digitais que nos fazem sentir mais queridos.
Ainda que virtualmente.
E é aí que mora o perigo: a nossa vida virtual se tornar mais atraente e onipresente que a vida real.
Ainda prefiro o tempo do olho-no-olho,
Estando presente ao viver o presente,
Da ferida que se cura com um abraço apertado.
Onde pessoas são o que efetivamente são: reais.
#euarenata
sexta-feira, 4 de agosto de 2017
Vida virtual
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