Uma vez ouvi dizer que sentir
inveja é nada mais do que reconhecer os seus próprios fracassos nos outros. Achei
essa colocação um tanto radical e unilateral. Ora, pois, se assim fosse, não
existiria o conceito de “inveja branca”. Aquela que espalharam por aí ser o
“café com leite” das invejas. Aquela que você pode sentir sem ser condenado a
um dos sete pecados capitais, já que predispõe mais uma admiração enrustida, do
que um sentimento de desejo de possessão de propriedade alheia, propriamente
dita. Creio que a inveja é colorida: existem diversos tons de inveja que variam desde a pessoa ter demasiada ganância ao ponto de passar por
cima de tudo e de todos para conquistar o seu objetivo, até aquela já mencionada Suíça das invejas - a translúcida
inveja branca. A que você sente de boa, sem qualquer tipo de sentimento ruim ou
sombrio atrelado a tal sensação. E é nesse tipo de inveja que os meus anseios
sempre se enquadraram. Nunca invejei ter aquele carro de luxo de fulana, ou aquele
sapato italiano de sicrana. Nem quis ser dona daquela casa de praia naquela ilha
isolada e paradisíaca de beltrano. Nem possuir aquele cargo de CEO de uma
multinacional de renome qualquer. A minha inveja sempre foi apaixonada por
atitudes ousadas, do bem. Invejo aquele surfista que viaja pelo mundo
desbravando as mais belas praias que existem, em busca da onda perfeita. Invejo a felicidade pura, despreocupada e
cândida das crianças. Invejo o senso de companheirismo e de lealdade de um peludo
– amigo de verdade - canino. Invejo gente que sempre arranja um tempinho para
encontrar pessoas queridas, mesmo com a falta de tempo. Invejo como
as patinadoras parecem anjos flutuando na pista de gelo, ao dançarem leves, o
seu ballet, como um cisne branco. Invejo aquelas pessoas que se portam como
crianças – na hora da brincadeira. Certamente são adultos muito mais criativos,
divertidos e bem-sucedidos. Invejo os denominados “últimos românticos” – se é
que eles efetivamente existem – e que não deixam a rotina matar o Don Juan que
lhes é inerente, se dedicando a conquistar todos os dias, a mesma pessoa. Invejo os que acertaram aqueles seis mágicos números da Mega-Sena, não por terem ganhado instantaneamente, a la Nissin Miojo, milhões de moedas na sua conta
bancária, mas, muito mais pelo fato delas não terem mais que se preocupar com questões financeiras pelo resto de suas eternidades. Dinheiro não é tudo, mas, nesse
caso, representa aparentemente menos um problema para ser enfrentado na loteria que é a vida. Invejo
todos os indivíduos que moram na Austrália, o melhor país do universo, uma espécie
de Brasil que deu certo. Invejo pessoas que se vestem da forma que bem entendem,
que comem tudo que sentem vontade sem sentir culpa, e que agem em conformidade com o que falam e o que pensam, sem se
importarem com o que a crítica, e muitas vezes hipócrita, sociedade prega.
Invejo os gênios que sabem o quão o seu QI é elevado, mas mantêm-se humildes na
sua absoluta sapiência ao lado de eventuais iletrados. Invejo aqueles que são
verdadeiras personificações de Gandhi ou Dalai Lama, e que conseguem agir com respeito,
calma e tranquilidade, mesmo se imersos no caos total. Invejo aqueles que têm orgulho
do seu trabalho, independente do que fazem. Invejo os que vieram do nada e
criaram, com honestidade e dedicação, o seu próprio grande ou pequeno império. Invejo aquelas pessoas que chegam ao ponto de se descuidarem, para cuidarem de outras vidas que definitivamente precisam de muita atenção. A
minha inveja aplaude de pé as iniciativas e os trabalhos dos Médicos sem
Fronteiras, Doutores da Alegria, do Greenpeace e das ONGs em geral que efetivamente mantêm o seu
caráter primordial de tentar tornar o mundo, um melhor lugar para se viver, “sem
fins lucrativos”. Para mim, sentir
inveja é reconhecer nos outros as suas próprias ambições. Aquelas que você não teve força, sorte ou coragem para seguir adiante, em algum momento da sua vida. Até agora.
Minha escritora predileta,
ResponderExcluirDecididamente, esta é uma das suas diversas praias ... Você leva muito jeito neste setor, pois suas narrativas são vivas do tipo reflexões leves, profundas, emotivas, divertidas, ficando sempre aquele gostinho de 'quero mais' ... E eu estou sempre querendo mais e esperando ansiosa pela próxima! ... Desejo-lhe um Sucesso Infinito e Merecido, Filha Minha ...
Você é Tudo de Bom !!!
Beijos, Amor,
Mamãe.
Obrigada querida mãe pelo lindo comentário espelha força de sempre! Te amo! :-))
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