sábado, 5 de setembro de 2015

Infinita música


                                                     Sempre fui fascinada por música. Não que eu menospreze outros tipos de artes, pelo contrário, ovaciono e admiro de tudo um pouco, mas, acho incrível como do silêncio, basta uma nota musical acompanhar a outra numa partitura de anseios, ritmos e sequências, para uma música ser produzida diretamente do vácuo do forno do pensamento, e se propagar nos ouvidos de indivíduos sedentos por um show íntimo para a alma. Ou para a sanidade, dependendo da extensão da sede em questão. Desde que me entendo por gente, ouvia os meus pais deixarem a casa transbordar com infinitas melodias, pelos cômodos adentro. Elas variavam desde a voz aveludada e envolvente do Frank Sinatra até o som empolgante e sensual dos Rolling Stones, embalados pelas cifras revolucionárias do saudoso Michael Jackson. Estamos falando aqui dos anos 80, onde vivi a maior parte da minha infância. Que época mais sensacional e criativa! A fruta proibida, a maçã da tecnologia, deu o ar da sua graça. Um ator é eleito presidente do país mais influente do mundo. Surge o Rock in Rio. O E.T. pedala a sua bicicleta voadora sob a luz da gloriosa lua cheia, ao som de uma orquestra  comovente. E a Barbie se torna uma referência – irreal – de padrão de beleza mundial. Então adentramos nos anos 90, outra época espetacular para quem aprecia música: aqui nasceram bandas vangloriadas até hoje. Continuam recentes, mesmo mais de vinte anos depois. Música, com raríssimas exceções a exemplo da Lambada, não perde o prazo de validade. Quem dessa geração não balançou insanamente a cabeça  ao som do clip do “Smell Like Teen Spirit” do Nirvana, ou do “Give it Away” do Red Hot Chili Peppers? Quem nunca ligou para o “Disk MTV” ou para a “Rádio Fluminense FM” para pedir a sua música favorita? Levante a mão quem nunca escutou músicas cafonas como “Rush, Rush” da Paula-plastificada-Abdul, ou “Ice, Ice Baby” do protótipo-baby de Enimem, Vanilla Ice? Os vampiros também bombaram nessa fase, com filmes marcantes do gênero como “Garotos Perdidos, “Dracula” (do Coppola) e “Entrevista com Vampiro”, onde o Tom Cruise e o Brad Pritt não têm absolutamente nada de monstro, se comparados àquele que teoricamente viveu na Transilvânia.  Ah, e a cômica novela “VAMP”? Fiquei calada na noite preta, ao acompanha-la do início ao fim. Foi a única novela que assisti desde “Vale Tudo”, certamente a melhor de todas. Nada explicaria com maior riqueza de detalhes sórdidos o Brasil de ontem, de hoje e de sempre, onde realmente vale tudo, na voz explosiva de Gal Costa. E está caminhando para não valer sequer um tostão, do jeito que as coisas vão. Hoje só perco o meu tempo, quando é o caso, assistindo seriados, filmes e documentários da TV a cabo, que, aliás, apareceu por aqui nesse período também, onde, talvez somente existissem quatro emissoras em todo o exíguo universo do canal aberto. Isso quando o Bombril da antena da TV conseguia mantê-las livres de imagens distorcidas, dentro da frequência correta. Mas voltando ao assunto do post, atravessamos com louvor o polêmico “bug do milênio”, sem o mundo acabar - pausa para a macabra música da clássica cena da facada no chuveiro, do filme “Psicose” do Alfred Hitchcock. Ufa! Foi por pouco, segundo previsões apocalípticas mil... Então aterrissamos, vivos, seguros e esperançosos de um futuro melhor, no ano 2000. Jurava que quando chegasse aqui iria ver carros voando pelo ar como em “De Volta para o Futuro 2”, mas mudaram as estações e nada mudou, como declarou Renato Russo em uma de suas canções, "A Quatro Estações". Já a internet, algo que parece uma utopia se descrita em palavras, fincou definitivamente o seu pé virtual nos meios sociais, que passaram a ser denominadas  redes sociais, e tudo virou uma imensa salada cibernética de kbytes, megabytes e gigabytes, temperada com  salas de bate-papos diversas, selfies, arquivos, tudo, digital. Você consegue comprar  qualquer música, de qualquer banda, de qualquer lugar do mundo, com qualquer cartão de crédito, em um só click. Tudo, de acordo com o seu humor do dia. Tá feliz? Com vontade de dançar? Compra um house, e enche a casa de alegria com as coreografias da Beyonce. Tá revoltado? Querendo xingar o mundo? Não faça isso! Compre um heavy metal para canalizar a raiva enrustida. Tá triste pra cacete, levou um corno? Compre um pagode bem brega para apaziguar os ânimos enfraquecidos, machucados. Em se tratando de música, gosto não se discute. Ela veste de acordo com a indumentária emocional de cada um. E a minha é uma trilha sonora.

2 comentários:

  1. Bravo Bravo Bravo ... Adorei !!!
    Beijos,
    Love U,
    Sua Fã Número 'Uno'

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  2. Dedico a trilha sonora que é a minha vida, a você, mãe querida! ;-)

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