quinta-feira, 17 de setembro de 2015

O pulsar incessante da vida

A vida acontece a todo momento. No piscar intermitente das reluzentes cidades, no calor de um abraço amigo, no choro manhoso de um recém-nascido. Falar sobre a vida é o meu tema predileto. Pois é um assunto que não tem como se levar à exaustão. E quando eu digo falar da vida, não é sobre a vida das pessoas, de fofoca. Estou me referindo ao conceito vida. Que se desmembra em diversos labirintos, ramificações, gêneros e espécies infinitas. Passadas, presentes e futuras. Vida esta que sempre será estudada e questionada, e, ainda assim, muitas perguntas ficarão sem uma resposta definitiva. De onde viemos? Para onde vamos? Existem tantas correntes. Taí a sua beleza intrínseca: o mistério mágico que é o milagre da vida. Enquanto estou aqui comentando despretensiosamente a respeito, existem milhões de indivíduos  nascendo neste mesmo minuto, assim como, para outros milhares, o ciclo da sua existência se encerrou, neste exato segundo. Finito. Bye, bye, american pie. See you later, alligator. Se alguém me perguntasse qual é o meu maior hobby, eu responderia, sem pestanejar: viver. Não de um jeito descompensado, como se o mundo fosse acabar amanhã. Embora ariana no signo, não sou muito fã de medidas extremas nesse aspecto. Deve-se agir insanamente dentro do que é considerado razoável no limite da sanidade. Gosto da vida simples como é.  Preto no branco. Ninguém disse que seria fácil. É a forma como a encaramos, que a torna melhor. Vida.  Ela simplesmente acontece. Você querendo - vivê-la plenamente - ou não.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Inspiração do dia - Luz


Deixe o sol entrar, banhar a sua alma sedenta por luz. Luz que seduz, que se espalha sem o menor esforço. Que contagia. Que alegria!

O Direito que deu errado

 
 
O passado me condena. Ou melhor, me condenou a 14 anos de prisão. Profissional. Mas consegui cumprir a sentença em regime semi-aberto. Não me encontrava totalmente enclausurada, pois tinha o direito de ser eu mesma quando voltava para casa. Algo que a minha labuta diária não permitia, pois ela arbitrariamente me restringia. Me tolhia. Decretos diários como: "_Jamais vá em desencontro com os anseios de um cliente..." ou "_ Você deve alertar, sim. Faz parte do seu trabalho. Agir Direito. E deve fazê-lo com o mínimo de polidez". Faziam parte das audiências cotidianas. E, claro, era imprescindível incorporar a máscara social. Mas eu sentia como se tivesse aprisionada numa burka. Se tem algo que não combina comigo é não ser eu mesma. E esse véu feio e escuro começou a sufocar com o tempo. Se existe algo que não consigo ser, é lobista. Não puxo o saco de ninguém. Quando elogio, é porque realmente gosto, admiro. Senão, me calo. Ia acabar escorregando e me machucando feio se fosse vaselina. Opa. Acaba de soar o alarme da prisão: alguém está querendo fugir dela. Um advogado antissocial que tem crise de consciência? Sei não. Quem viu o esplêndido filme "Advogado do Diabo" interpretado pelo magnífico e teatral Al Pacino, sabe do que estou falando. Mas vamos voltar um pouco no tempo: assim que passei na OAB, posso afirmar que foi o dia mais feliz da minha vida. E assim me senti também, quando resolvi largar o Direito. Não que um dia eu simplesmente decidi abandonar tudo em busca de um sonho infundado. Sou ousada, mas quando o assunto é assumir responsabilidades, sempre tive os pés fincados na razão do chão. Vamos dizer que a crise econômica brasileira em conjunto com a conspiração positiva do Universo me auxiliaram, nesse sentido. Nunca me esqueço do momento em que tive o primeiro insight de que o Direito era errado para mim. Tinha acabado de voltar da lua-de-mel dos sonhos  de qualquer mortal - diretamente da imensidão azul que é o Tahiti. E fui aterrizar - com muita turbulência emocional - no pesadelo que era o meu trabalho (para mim). Uma pausa: não quero parecer a própria "Renata, Ingrata" do Latino. Ganhava bem e o Direito me tornou uma pessoa mais esperta, alerta - em todos os âmbitos. Tenho um radar para farejar falcatruas à distância, graças ao Direito, que me ensinou tudo que existe de incorreto. Dentro e fora da lei. Então voltando a epifania que recaiu sobre mim, estava eu, cabisbaixa, caminhando a passos de tartaruga em direção ao corredor da morte - da minha personalidade - que era o meu trabalho, quando senti um aperto no coração e me perguntei com sinceridade por que eu deveria continuar fazendo algo que me dava tanto desgosto. "_ Pelo dinheiro, lógico!", respondeu francamente a minha consciência. Não me convenceu. Não me comprou.  Então a partir dali passei a mentalizar que o destino estava reservando algo de bom para mim. Que um dia eu conseguiria obter o meu habeas corpus profissional. E, então, numa data qualquer, quando eu menos esperava, o Direito largou do meu pé. Bem dizendo, do meu salto alto. Melhor assim. Prefiro muito mais o meu autêntico e descolado tênis Adidas.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Dona do Mundo


 
Penso que sou a dona do mundo. Ao menos, do meu. Ele nunca poderá ser desapropriado ou herdado. Ele não está à venda e a sua certidão de registro é irrevogável. No meu mundo, viajar é preciso. Viajar na cauda de devaneios utópicos frutos de uma imaginação nada estéril. Ela produz mais bebês do que qualquer clínica especializada em fertilização in vitro.  Tem de todo tipo: carismático, tímido, emburrado e chorão. Mas todos muito saudáveis, amém. Sou daquelas que consegue fixar o olhar num ponto qualquer da parede e mergulhar em ideias fixas, me desligando totalmente do exterior, dando literalmente uma banana imaginária para o mundo. E passo a viver intensamente o fantástico mundo introspectivo de Renata. Todo mundo deveria se permitir esse tipo de válvula de escape. Faz um bem danado  viajar sem sair do lugar. Você se perde ao atender às ligações magnéticas dos seus neurônios, mas acaba se encontrando ao prestar atenção na mensagem deixada após o bip, pela voz da sensatez. E ao me achar fora da casca da ilusão, sinto a urgente necessidade de viajar fisicamente. Para a praia, para a esquina. Para qualquer lugar considerado minimamente seguro. Não viajaria para o espaço, por exemplo. Temo o escuro, o desconhecido. Vai que eu encontre um E.T. que não seja tão fofo como o do Steven Spielberg? Ficaria com medo dele roubar o meu cérebro. A espinha dorsal da minha personalidade. Meu berçário de pensamentos. Onde eu me reinvento, ressuscito, a qualquer momento, quando necessário, em sintonia com o significado do meu nome: “renascida”, em latim. Onde a fênix que renasce das cinzas voa e transita gloriosamente pelos céus da inusitada fábrica de sonhos e pesadelos que é a minha cabeça. Na maioria das vezes sã. Sem os cinquenta tons da minha massa cinzenta, como eu iria me lembrar das minhas idas e vindas por aí? Imagens coloridas que ficaram eternamente congeladas e emolduradas no fundo da minha mente. Como iria recordar das bucólicas ruas de Paris? Da saborosa pizza da histórica Roma? Dos muros rochosos que me engoliram no cenário do “Senhor dos Anéis”, na Nova Zelândia? Do paraíso que é o Tahiti? Da potência que são os Estados Unidos? Da musical e saudosa Viena? Da deliciosa gastronomia do Chile? Da nostálgica Havana? Do tango pungente de Buenos Aires? Do inverno congelante do Canadá? Do refrescante clericot uruguaio? Como eu poderia me esquecer do lugar mais divertido, lindo e louvável de todos: da minha amada 'down under' Austrália? Todas, lembranças que enfeitam cada qual no seu lugar, o meu mundo, como numa suntuosa e exclusiva exposição de decoração da Casa Cor. Que segue à risca a tendência lançada pela minha própria essência. Do meu mundo. Só meu.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Gisele Enrustida

Todo mundo tem uma übermodel dentro si.  A diferença é que uns assumem publicamente, e outros fazem doce. Fingem que não gostam dos holofotes da vaidade. Talvez por vergonha. Ou até para não demonstrarem fraqueza. A vaidade não deixa de ser um defeito, quando em excesso. Mas sendo bem dosada, torna-se até uma virtude. Passa credibilidade. Todo mundo admira uma pessoa que se cuida – com moderação – e se veste bem. Principalmente quando a vaidade anda junto com o bom senso e o bom gosto. A pessoa nem precisa ser bonita, mas se possuir um sorriso sincero com dentes alinhados, já é um imponente cartão de visita. Há maneiras e formas de chamar atenção pra si. Eu sempre levantei a bandeira da modelete enrustida. Quem me conhece bem, sabe que eu sempre gostei de fazer pose: engraçada, sexy, blasé. Perdi as contas de quantas vezes pedi à minha mãe para tirar fotos minhas de biquíni, de vestido, de bobeira. Só para registrar o momento. Passar de maneira descontraída, o tempo. Na era dos selfies, então... Melhor impossível. Não precisa ter ninguém testemunhando a sua descompensada ou comedida vaidade. A produção é imediata e em série: é possível tirar duzentas e cinquenta fotos fazendo o mesmo bico, e escolher uma digna de capa da Vogue. Sem precisar gastar um tostão em rolo de filme, nem revelação. Mas atenção: cuidado com o ego. Ele pode ficar narcisista demais. Ou cair na profunda depressão de se deparar com imagens de pessoas aparentemente perfeitas, produzidas – na surdina - pelo truque do photoshop. Um golpe baixo, mas parte integrante da nossa virtual realidade: nem Leonardo Da Vinci conseguiria atingir tamanho grau de perfeição nas suas obras de arte. Só que o belo só se mantém até o momento em que se acostuma com ele. Infelizmente a beleza externa se auto detona com o cronômetro do tempo.  Se até o Tom Brady vacilou com a Gisele, por que haveria de ser diferente com o resto da humanidade? Por isso sustento que a vaidade deveria se vestir de dentro pra fora. E não o contrário. Não existe nada mais poderoso e admirável do que alguém seguro de si. Então não se deixe abater com o que os seus olhos veem ao espiar a fechadura da internet. Não se diminua perante esse grupo estelionatário de megapixels. Tenha em mente que o belo se encontra nas diferenças.  Nos defeitos que só existem na sua cabeça, aliados a tudo que existe de bom em você. Por dentro e por fora. E só existe um de você mesmo, em todo o universo. E não há nada mais precioso do que ser único. Ouse ser diferente. Por isso, #ficaadica  para uma auto estima turbinada: vista-se para matar, mas como se tivesse indo para uma entrevista de emprego. Assim você dosa o lado sensual que existe dentro de si. E então faça cara de bege e trace uma passarela imaginária na sua frente. Corrija a postura e siga adiante pisando em passos firmes e ritmados, mas sem pesar para não afetar a leveza do seu desfile pessoal. Imagine que está em Paris, Milão. Pense em aplausos. Sim, você sendo aplaudido por um público que é seu fã incondicional. Você mesmo.

domingo, 13 de setembro de 2015

Espelho, espelho meu...

 
Vamos relaxar. Aproveitar o momento. Carpe Diem. Ter um encontro com a felicidade plena, gratuita. Vamos nos teletransportar para nossa secreta zona de conforto. Cavalgar no unicórnio imponente da nossa imaginação. Reparar no comum. Contemplando a magnitude dos detalhes do cenário minimalista que é a percepção de cada um. Imagine-se sentado à beira de um rio cristalino ou de uma praia deserta. Escolha o local que te deixe mais sereno. Abuse dos seus sentidos. Sinta-se vivo. Olhe para o seu interior. Inspire fundo e expire sem pressa. Escute o seu coração. Brinque com bolinhas de sabão. Preste atenção em si. E nos outros. Não seja ignorante. Não se ignore. Conte até dez, se preciso. Para se desligar de tudo que te deixa desapontado, naufragado nas suas emoções mais sombrias. Elimine todo tipo de auto-boicote. Liberte-se de qualquer mau pressentimento ou ressentimento. Deixe o passado simplesmente passar batido. Diga em voz alta: "_Tchau, passado! Alô presente!". Dê boas-vindas a mais um dia desbravando acima do horizonte. Cante parabéns para o pôr-do-sol. Mais um magnífico dia se foi. Diga olá para a gloriosa lua. Ria de si mesmo. O importante é sentir-se grato. Converse com o seu "eu" interior, ainda que em silêncio. Descubra-se. Perdoe-se. Ame-se. Escute maravilhado o barulho da chuva. Que delícia é dormir com a cabeça tranqüila num travesseiro macio, ao som dessa ducha externa de água corrente dos céus. Corra despretensiosamente com as mãos lançadas para cima, sobre a mata molhada. Aprecie o cheiro da terra úmida. Sinta o calor do meio ambiente. Não tem nada mais revigorante do que ser abraçado pela mãe  natureza. Mantenha contato com a sua criança interna. Ela é a sua alma, sua essência. Mime-se. Cuide-se. Olhe-se no espelho e diga o quanto você se orgulha de si. Por dentro e por fora. Mesmo que vá sair de casa somente para comprar pão na padaria, se enfeite, use batom. Quem sabe o destino tenha marcado um encontro com o seu futuro amado, lá na esquina? Tome café. Numa daquelas lojinhas bem decoradas, iluminadas com abajures coloridos e música boa para os ouvidos. Existe melhor dejejum do que um espresso de uma La Marzocco acompanhado de um delicioso pão artesanal? Hummm... Literalmente um cafuné no meu paladar. Pegue um carro e dirija sem destino. Só por um minuto. É o suficiente para se sentir livre. Ao som, então, de "Beautiful Day" do U2? É como alcançar o nirvana, sem precisar sair de si. Não o do Kurt Cobain, confuso, rebelde. Mas, sim, o do êxtase da sua própria existência. Ouse. Mas só de vez em quando. Para adormecer um pouco a rotina. Digo adormecer, e não matar, pois a rotina é boa: um excelente indício que você é um dos poucos privilegiados que se encontraram nesse mundo, tão perdido. Então cuide dela com apreço. Pois ter um GPS interno que veio sem defeito de fábrica? Não tem preço.

sábado, 12 de setembro de 2015

Ode às Crianças


Estou evitando comentar sobre esse acontecimento há dias, pois seria preciso encarar todos os demônios da humanidade. E não sou do tipo que se sente à vontade em dissertar sobre eventos tristes, pesados. Não me faz bem. Prefiro falar sobre questões triviais, do cotidiano. Mas, exatamente hoje, quando estava no supermercado passando pelo caixa eletrônico itens como fraldas, leite ninho, chambinho, deparei-me com a capa da revista “Veja” desta semana, que com letras garrafais recitava um dos dizeres do poeta polonês ganhador do prêmio Nobel da Literatura, Czeslaw Milosz, os quais proclamavam o seguinte: “Deus, sendo bom, fez todas as coisas boas. De onde então vem o mal? O mal (e o bem) vem do homem.” A foto em destaque, com o pano de fundo preto, era aquela cena inenarrável do garotinho refugiado desencarnado, deitado à beira do mar. Tive que respirar. Fundo. Retomei o meu ar, voltando a observar tudo que estava comprando para o meu filho, e tornei a encarar aquela foto que já vi muitas vezes espalhada por redes sociais, revistas e jornais, mas que sempre me faz brotar o mesmo tipo de sensação intensa de tristeza, de choro entalado e olhos marejados. Senti necessidade de falar algo a respeito. Fazer um tributo a esse menino. Mas, antes... Fiquei um minuto em silêncio. Logo penso no meu filho, que deve ser somente um pouco mais novo do que aquele garotinho, certamente tão amado pelos seus pais, que estavam fazendo de tudo para tentar lhe proporcionar uma vida melhor. Longe da crueldade, do inferno, que são as guerras. Guerras promovidas por puro ódio, desrespeito à religião dos outros; ou, pior, por território, dinheiro, petróleo. Num mundo que se prega a igualdade, liberdade e fraternidade, como pode haver tanta maldade? Será que nunca iremos aprender com os nossos próprios e reincidentes erros? Será que nunca iremos realizar que recebemos a vida embrulhada numa embalagem de presente tão bela, e que somente depende de nós sabermos o que faremos dela? Ela será boa? Ruim? Cabe ao que dizem ser considerado o ser mais inteligente de todos, resolver. O homem. Mas logo este ser racional - pasmem - não percebe que as crianças são o futuro da humanidade. São argilas frescas, ávidas por conhecimento, prontas para serem moldadas, com base em todo tipo de exemplo. Bom ou ruim. E aí atingem certa maturidade, e aquele molde que ainda poderia, até certo ponto, ser alterado, já se encontra tão rígido, que dificilmente mudará sem ser quebrado. Crianças são os elos mais importantes da nossa existência.  São os seres que mais sinto compaixão, junto com os animais. Pois são puros e indefesos. Não que eu não tenha o mesmo tipo de sentimento por idosos em geral, eles são a nossa ligação com o passado. Me pergunto, entretanto: alguém conseguiria sentir pena se encontrasse no seu caminho o Hitler em pessoa, velho, careca, definhado sobre uma cadeira de rodas, só porque está senil? Pois é. Prefiro deixar essa resposta no ar. Não quero ser responsabilizada por gerar mais  uma guerra. Muito menos de vaidades. Já, crianças, não carregam esse tipo de estigma. Por isso o mundo deveria dar mais atenção a elas. Todos os dias deveriam ser dedicados às crianças, não apenas o 12 de outubro. Deveríamos sempre presentar as nossas crianças com brinquedos, sim, mas, acima de tudo, com muito carinho, instrução e dedicação. Sem qualquer tipo de hesitação. Então vejo e choro em silêncio com filmes como “A Escolha de Sofia”, “O Menino do Pijama Listrado” e “Diamante de Sangue”, que nos chocam com determinadas cenas arrebatadoras de crianças, vítimas de todo tipo de guerra, provocada por nós, homens. Que nasceram bons e se tornaram maus. E me questiono se realmente há esperança. Para as nossas crianças. Isto, porque, ainda existem aquelas guerras que todos sabem que acontecem, mas que fingem não existir, a exemplo das guerras civis e do tráfico que constantemente abatem a nossa cidade maravilhosa, ou qualquer outra cidade, que prefere manter a privacidade. Pois não é nada bom divulgar o ruim. Vamos chorar em silêncio. Nada melhor do que esconder a poeira embaixo do tapete. Deixe que outra pessoa - a futura criança - limpe depois. Será?