Estou evitando comentar sobre esse
acontecimento há dias, pois seria preciso encarar todos os demônios da
humanidade. E não sou do tipo que se sente à vontade em dissertar sobre eventos tristes, pesados. Não me faz bem. Prefiro falar sobre questões triviais, do
cotidiano. Mas, exatamente hoje, quando estava no supermercado passando pelo
caixa eletrônico itens como fraldas, leite ninho, chambinho, deparei-me com a
capa da revista “Veja” desta semana, que com letras garrafais recitava um dos
dizeres do poeta polonês ganhador do prêmio Nobel da Literatura, Czeslaw Milosz,
os quais proclamavam o seguinte: “Deus, sendo bom, fez todas as coisas boas. De
onde então vem o mal? O mal (e o bem) vem do homem.” A foto em destaque,
com o pano de fundo preto, era aquela cena inenarrável do garotinho refugiado
desencarnado, deitado à beira do mar. Tive que respirar. Fundo. Retomei o meu ar, voltando a observar tudo que estava comprando para o
meu filho, e tornei a encarar aquela foto que já vi muitas
vezes espalhada por redes sociais, revistas e jornais, mas que sempre me faz
brotar o mesmo tipo de sensação intensa de tristeza, de choro entalado e olhos
marejados. Senti necessidade de falar algo a respeito. Fazer um tributo a esse menino. Mas, antes... Fiquei um minuto em silêncio. Logo penso no meu filho, que deve ser somente um pouco mais novo do
que aquele garotinho, certamente tão amado pelos seus pais, que estavam fazendo
de tudo para tentar lhe proporcionar uma vida melhor. Longe da crueldade, do
inferno, que são as guerras. Guerras promovidas por puro ódio, desrespeito à
religião dos outros; ou, pior, por território, dinheiro, petróleo. Num mundo que se prega a
igualdade, liberdade e fraternidade, como pode haver tanta maldade? Será que
nunca iremos aprender com os nossos próprios e reincidentes erros? Será que nunca iremos realizar que recebemos a vida embrulhada numa
embalagem de presente tão bela, e que somente depende de nós sabermos o que
faremos dela? Ela será boa? Ruim? Cabe ao que dizem ser considerado o ser mais inteligente de todos, resolver. O homem. Mas logo este ser racional - pasmem - não percebe que as crianças são o futuro da humanidade. São argilas
frescas, ávidas por conhecimento, prontas para serem moldadas, com base em todo
tipo de exemplo. Bom ou ruim. E aí atingem certa maturidade, e aquele molde
que ainda poderia, até certo ponto, ser alterado, já se encontra tão rígido, que
dificilmente mudará sem ser quebrado. Crianças são os elos mais importantes da
nossa existência. São os seres que mais
sinto compaixão, junto com os animais. Pois são puros e indefesos. Não que eu
não tenha o mesmo tipo de sentimento por idosos em geral, eles são a nossa
ligação com o passado. Me pergunto, entretanto: alguém conseguiria sentir pena se encontrasse no seu caminho o Hitler em pessoa, velho, careca, definhado sobre uma cadeira de rodas, só porque está senil? Pois é. Prefiro deixar essa resposta no ar. Não quero ser responsabilizada por gerar mais uma guerra. Muito menos de vaidades. Já, crianças, não carregam
esse tipo de estigma. Por isso o mundo deveria dar mais atenção a elas. Todos
os dias deveriam ser dedicados às crianças, não apenas o 12 de outubro. Deveríamos sempre presentar as nossas crianças com brinquedos, sim, mas, acima de tudo, com muito carinho, instrução e
dedicação. Sem qualquer tipo de hesitação. Então vejo e choro em silêncio com filmes como “A Escolha de Sofia”, “O Menino
do Pijama Listrado” e “Diamante de Sangue”, que nos chocam com determinadas cenas arrebatadoras de
crianças, vítimas de todo tipo de guerra, provocada por nós, homens. Que nasceram bons e se tornaram maus. E me questiono se realmente há esperança. Para as nossas crianças. Isto, porque, ainda
existem aquelas guerras que todos sabem que acontecem, mas que fingem não
existir, a exemplo das guerras civis e do tráfico que constantemente abatem a nossa
cidade maravilhosa, ou qualquer outra cidade, que prefere manter a privacidade.
Pois não é nada bom divulgar o ruim. Vamos chorar em silêncio. Nada melhor do que esconder a poeira embaixo do tapete. Deixe que outra pessoa - a
futura criança - limpe depois. Será?
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