Penso que sou a dona do mundo. Ao
menos, do meu. Ele nunca poderá ser desapropriado ou herdado. Ele não está à
venda e a sua certidão de registro é irrevogável. No meu mundo, viajar é
preciso. Viajar na cauda de devaneios utópicos frutos de uma imaginação nada
estéril. Ela produz mais bebês do que qualquer clínica especializada em fertilização in vitro. Tem de todo tipo: carismático,
tímido, emburrado e chorão. Mas todos muito saudáveis, amém. Sou daquelas que
consegue fixar o olhar num ponto qualquer da parede e mergulhar em ideias
fixas, me desligando totalmente do exterior, dando literalmente uma banana imaginária para o mundo. E passo a viver intensamente
o fantástico mundo introspectivo de Renata. Todo mundo deveria se permitir esse tipo de
válvula de escape. Faz um bem danado viajar sem sair do lugar. Você se
perde ao atender às ligações magnéticas dos seus neurônios, mas acaba se
encontrando ao prestar atenção na mensagem deixada após o bip, pela voz da sensatez. E ao me
achar fora da casca da ilusão, sinto a urgente necessidade de viajar fisicamente. Para
a praia, para a esquina. Para qualquer lugar considerado minimamente seguro. Não
viajaria para o espaço, por exemplo. Temo o escuro, o desconhecido. Vai que eu encontre
um E.T. que não seja tão fofo como o do Steven Spielberg? Ficaria com medo dele
roubar o meu cérebro. A espinha dorsal da minha personalidade. Meu berçário de
pensamentos. Onde eu me reinvento, ressuscito, a qualquer momento, quando
necessário, em sintonia com o significado do meu nome: “renascida”, em latim.
Onde a fênix que renasce das cinzas voa e transita gloriosamente pelos céus da
inusitada fábrica de sonhos e pesadelos que é a minha cabeça. Na maioria das vezes sã. Sem os
cinquenta tons da minha massa cinzenta, como eu iria me lembrar das minhas idas e vindas por aí? Imagens coloridas que ficaram eternamente congeladas e emolduradas no fundo da minha mente. Como iria recordar das bucólicas
ruas de Paris? Da saborosa pizza da histórica Roma? Dos muros rochosos que me
engoliram no cenário do “Senhor dos Anéis”, na Nova Zelândia? Do paraíso que é
o Tahiti? Da potência que são os Estados Unidos? Da musical e saudosa Viena? Da
deliciosa gastronomia do Chile? Da nostálgica Havana? Do tango pungente de
Buenos Aires? Do inverno congelante do Canadá? Do refrescante clericot
uruguaio? Como eu poderia me esquecer do lugar mais divertido, lindo e louvável de todos: da minha amada 'down under' Austrália? Todas, lembranças que enfeitam cada qual no seu lugar,
o meu mundo, como numa suntuosa e exclusiva exposição de decoração da Casa Cor.
Que segue à risca a tendência lançada pela minha própria essência. Do meu
mundo. Só meu.
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