sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Andança mundana

 
Nada será o que sempre foi
Talvez nada foi o que se imaginava ser
Nem sempre se terá tudo de nada
Nem nada de tudo
Mudanças
Andanças que deixam para trás tudo de bom
Tudo de ruim
Depende da perspectiva do respectivo transeunte
Nômade ou inerte
Adaptar-se a uma novidade
Por pura vaidade? Leviandade? Falta de Personalidade?
Não importa.
Camaleão de comportamentos e pensamentos nada convencionais
Agir de acordo com o conveniente
Você mente?
Demente
Transforme a sua mente
Vai para frente
Invente outro rumo
Acabe definitivamente com o seu terror noturno
Ou diurno
Ataque de ansiedade desgovernado
Que te deixa transtornado
Sentimento macabro
Você se sente atolado
Na sua própria imaginação
Cheia de imperfeição
Ainda assim, seja grande
Maior que você mesmo
Até conseguir transcender o seu corpo
E trocar por outro
Mais coerente
Decente
Valente
Inteligente
Evoluído
Incorporar alguém que realmente te dê ouvido                                               Que faça tudo fazer sentido 
Para você nunca mais se sentir sumido
Nem de você mesmo
Nem do mundo
Vasto mundo
Varrido do mundo
Para fora do tapete da vergonha
Como uma poeira enrustida e impregnada
Nunca mais ser nada
Nem copiado
Nem remendado
Nem isolado
Ser tudo – de bom - ou nada.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Dark Poetry


 
Sometimes you just wish to disappear
From the existence of your wisdom
From your own being
I don’t mean to kill yourself
But to indulge yourself with another existence
Live another life
Just for one moment
Just until the moment you start to miss your own human being
Just one second
One day
Vanish from the air
Feel homesick for a place that never existed
Just inside your sick, insane mind
Mindset full of ghosts
Hunting your desires with nonsense
Urging you to reappear
To use your hateful but useful poker face
So that you could never be yourself
Until you run away again
And again
From yourself

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Chove chuva


          (Foto: Daydream Fotografia)
 
Mesmo onde há chuva, há energia... Mesmo na escuridão, sempre existe luz. 
 
Onde há morte, sempre terá vida. Onde tudo termina, sempre haverá um novo começo.
 
 Nada é finito, nenhum cenário é fixo, só o tempo não muda, pois ele nunca para.
 
Mas nunca, nenhum instante, momento, emoção será igual ao anterior.
 
Como gotas de chuva incandescentes, cada qual com o seu próprio peso, tamanho, formato, todos temos algo em comum: ninguém sairá ileso da chuva.
 
Tudo é a forma que a encaramos. Muito melhor sentir o toque acolhedor da chuva do que encarar por trás de uma janela minúscula, na penumbra, o sol. 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Era uma vez...

         


Toda mulher tem uma princesa dentro de si. Nomeie: Cinderela, Rapunzel, ou, até a gata borralheira da Julia Roberts, em uma "Linda Mulher".
 
Toda menina quer um dia, quem sabe, encontrar o seu respectivo príncipe encantado.
 
Sonha que a sua vida seja um eterno conto hollywoodiano onde o final seja sempre feliz.
 
Um filme repleto de drama, pode ser, mas onde o amor irremediavelmente consegue superar qualquer lágrima derramada ou tristeza carregada intimamente na alma da romântica incurável.
 
Para o príncipe aparecer de fato, é preciso navegar uma considerável distância pelo brejo dos sapos, que nem sempre são seres tão simpáticos como o Caco do seriado Muppets.
 
Mas, veja bem, ao encontrar o tão almejado príncipe, desencante-se: você certamente não irá se deparar com o Super-homem em pessoa. Até o Clark Kent usava óculos, sem mencionar, o quão era atrapalhado.
 
É preciso usar os seus super poderes de  Mulher Maravilha para poder realizar a maravilha que é querer ficar, permanecer com alguém, além da armadura do pretendido, ou já conhecido, herói.
 
É necessário lançar aquela visão de raio-x dentro do Fera, para poder realmente se sentir a sua respectiva Bela. Felizes para sempre.
 
E nada mais eficiente do que o óculos do amor para ajudar a encontrar o seu príncipe no fim de um radiante arco-íris do acaso. Pois na mesma proporção em que o amor cega, o faz enxergar um mundo mais colorido. Ver o extraordinário no que é comum.
 
O amor verdadeiro é trapaceiro; te rouba o coração sem te pedir perdão. Leva-se subitamente uma flechada do cupido do destino, tão intensa e sorrateira, capaz de reviver até o mais dilacerado, internado em estado terminal, sofrido coração.  Basta acreditar que contos de fadas existem. "O nosso amor a gente inventa", já dizia o poeta Cazuza.
 
Crer para ver: o amor acontecer. Não deixe a bruxa malvada da decepção passada envenenar a maçã do amor presente. O amor é inocente, simplesmente se sente.
 
Não se deixe abalar com o papo furado do sapo, que acabou virando um príncipe chato. Quando o amor é autêntico há persistência. Pois se houver desistência, nunca foi amor. E nem o príncipe mais bravo poderá salvar a princesa dessa fábula, se a própria princesa não acreditar que o príncipe seja capaz de tal feito.
 
Portanto, o amor não só pode ser inventado, como deve ser reinventado, para o feliz poder ser escrito no plural, para sempre. De preferência, antes da meia-noite, para a Cinderela não virar abóbora. Fim.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

50 Moletons de Narcisa


Narcisa era uma enrustida poetisa que morava em Ibiza. Um local exótico notoriamente conhecido por proporcionar noites calientes regadas a encontros pungentes entre VIPS e indecentes.  As praias, abarrotadas de gente atraente, deixavam Narcisa ainda mais carente, devido ao seu visual um tanto quanto deprimente.
 
Narcisa não tinha vaidade, por pura leviandade. Foi criada numa família rígida, e em consequência, se tornou frígida. Em Ibiza, longe do sistema de vigilância da sua família insana, sentiu uma urgente necessidade de romper a sua mente, para algo totalmente diferente. Queria deixar de usar aquele velho moletom cinza e parar de ser ranzinza. Precisava florear o seu assombroso coração com algum tipo de atração. Algo que, sem sombra de dúvida, não faltava em Ibiza.
 
Então Narcisa finalmente encarou-se no espelho e notou como a cor do seu cabelo encontrava-se um tanto descolorida. Radicalizou: tingiu de loiro platinado as suas pálidas negras madeixas. Passou um batom vermelho, alisou o cabelo. Narcisa não se reconhecia mais diante do espelho. Mas não se assustou. Pelo contrário: sorriu, pela primeira vez depois de muitos anos, apreciando a surpreendente sensação de ansiedade em relação ao inesperado. Como pode? Logo ela, onde tudo era tão moldado. Tão controlado.
 
“_Liberte-se, Narcisa!” finalmente exclamou uma voz interna no seu ouvido. E assim Narcisa rompeu as suas amarras imaginárias para desbravar o, até então, temido mundo. Queimou seus moletons. E de short jeans, salto alto e um top ousado, bem chamativo, Narcisa atravessou as ruas de Ibiza incorporando uma vida libertina que nunca imaginou, mas que sempre almejou – por baixo do seu atualmente torrado leque pálido de moletons da cor cinza.
 
Narcisa, até então introspectiva, virou narcisista. Num lugar que mais parecia um concurso de vaidades embaladas por beldades, Narcisa inexplicavelmente se encontrou, fora do seu eu interior. E viciou. Não em bebidas, nem drogas, nem beijos. Mas naquele tipo de olhar penetrante que os homens lançavam ao vê-la dançando, sem o menor pudor: no olhar de desejo. O mais honesto e tórrido tipo de cortejo.
 
Para uma poetisa de aparência transformada, mas de alma intacta, essa era a sua maior droga: a fantasia. Inspirada numa cena que não sabia ao certo se era verdade ou teoria. “_Teria Narcisa realmente vivido tudo isso?” – questionava sua voz interna, embevecida. Então Narcisa repara que ainda está usando o seu velho e opaco moletom cinza. Em Ibiza.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Sentimento em Foco



Olá você, dentro do espelho... Quanto tempo não te vejo. Que não te olho com esmero. Muitas vezes, apenas reparo, no seu olhar de desespero.

Olá você, dentro do espelho... Quanto tempo não falo contigo. Anda tudo tão corrido. Nunca paro, nem te dou ouvidos. Muitas vezes, apenas sinto. O quanto ando perdido.

Olá você, dentro do espelho... Quanto tempo que eu te bloqueio. Da minha visão. Do meu coração. Da minha percepção. Sei não... Mas acho que te odeio.

Olá você, dentro do espelho.  Quanto tempo não te peço ajuda. Você é o único que me escuta. Talvez eu simplesmente não esteja sendo justo com você. Comigo.

Olá você, dentro do espelho! Há quanto tempo estamos  juntos. Desde sempre, para sempre. Só agora passei novamente a te reparar. Para nunca mais precisar te consertar.

Olá você, dentro do espelho! Há quanto tempo nos falamos. Nos escutamos. Nos respeitamos.  Sempre soube que incontestavelmente nos amamos.

Olá você, dentro do espelho! Há quanto tempo estamos em paz. Com você eu não quero mais brigar. Jamais. Só lhe desejo o melhor do mais belo sentimento: eu. Isso, você mesmo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crise Econômica Existencial




Existem lugares que faço questão de frequentar com assiduidade. Determinados locais que os meus olhos travam na vitrine e brilham através do seu vidro translúcido, retratando um semblante de desejo estampado por todo o meu rosto. Dentre eles não dispenso visitar uma perfumaria, papelaria ou cafeteria. Escolher o batom perfeito. A sombra impactante. A base mais deslumbrante. Viajo no aroma de Duty Free Shopping exalado pelo ambiente perfumado de uma perfumaria. Sinto-me passeando, de graça, no exterior. Já a papelaria é uma orgia para a minha visão. Olhar de criança, que se entusiasma facilmente com qualquer ambiente colorido, criativo. São tantas opções que variam desde papéis de diversas texturas, até enfeites, canetas, bolsinhas, mochilas, maletinhas, dos mais variados tipos e tamanhos. Entrar numa cafeteria é como pousar delicadamente nas nuvens do vapor emanado por um encorpado espresso. Canecas divertidas, música agradável e ambiente reconfortante te fazem querer passar uma vida inteira de um dia, só ali, apreciando o cheiro e paladar agradáveis do café. Sem mencionar nos quitutes que sempre acompanham bem essa delícia de néctar revigorante: pão caseiro, bolo de aipim, brigadeiro. Hummmm. Um dos meus retiros prediletos, a cafeteria. Então entro numa livraria, e lá posso viver inúmeras vidas numa só. Vidas dramáticas, românticas ou cercadas de magia. Incorporar um personagem infantil ou pintar o sete num jardim secreto. Descobrir o mistério do século ou encontrar a receita mais cobiçada de todas. Aprender a cultivar um relacionamento ou a viajar pelo tempo. Pela moda. Por lugares diferentes, pelo mundo. Sou apaixonada pelas Livrarias da Travessa da vida. De tão apegada que sou por livros, me causa espécie testemunhar o triste episódio do último dia de uma livraria. Todos os seus tesouros empacotados em caixas de papelão pálidas e monótonas. Livros enterrados no vácuo da crise existencial do Brasil. São lojas de todos os tipos encerrando as suas atividades, sufocadas pelos impostos altos e pela baixa quantidade de vendas. Venda-me os olhos, mas não me faça mais sofrer com a catástrofe que está se tornando o nosso pobre, quebrado, iletrado País. São lojas de roupas, sorveterias, confeitarias... Tudo sendo aniquilado pela nossa cancerígena crise econômica. Que mata aos poucos, tudo que existe de bom. Até lojas de brinquedos são vítimas; sonhos de crianças sendo despedaçados – nem sonhos são mais respeitados. Então vejo uma livraria que costumava ir com certa frequência, encerrar a sua existência, da noite para o dia. Isso me faz sentir um enorme e maligno nódulo na garganta. O Brasil, já mal educado por conveniência política, daqui a pouco fechará a sua mente demente até para a compra de um singelo -  e inocente -livro. Uma ditadura camuflada no voto democrático comprado pela bolsa mais cara de todas - aquela custeada pelo bolso - já quase vazio - do honesto contribuinte. Desse jeito, só nos restará criar estórias esquizofrênicas nas nossas próprias cabeças desmioladas, fantasias sem alegorias. Que me parecem muito mais um pesadelo. De onde – possivelmente - nunca mais iremos acordar.