quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Crise Econômica Existencial




Existem lugares que faço questão de frequentar com assiduidade. Determinados locais que os meus olhos travam na vitrine e brilham através do seu vidro translúcido, retratando um semblante de desejo estampado por todo o meu rosto. Dentre eles não dispenso visitar uma perfumaria, papelaria ou cafeteria. Escolher o batom perfeito. A sombra impactante. A base mais deslumbrante. Viajo no aroma de Duty Free Shopping exalado pelo ambiente perfumado de uma perfumaria. Sinto-me passeando, de graça, no exterior. Já a papelaria é uma orgia para a minha visão. Olhar de criança, que se entusiasma facilmente com qualquer ambiente colorido, criativo. São tantas opções que variam desde papéis de diversas texturas, até enfeites, canetas, bolsinhas, mochilas, maletinhas, dos mais variados tipos e tamanhos. Entrar numa cafeteria é como pousar delicadamente nas nuvens do vapor emanado por um encorpado espresso. Canecas divertidas, música agradável e ambiente reconfortante te fazem querer passar uma vida inteira de um dia, só ali, apreciando o cheiro e paladar agradáveis do café. Sem mencionar nos quitutes que sempre acompanham bem essa delícia de néctar revigorante: pão caseiro, bolo de aipim, brigadeiro. Hummmm. Um dos meus retiros prediletos, a cafeteria. Então entro numa livraria, e lá posso viver inúmeras vidas numa só. Vidas dramáticas, românticas ou cercadas de magia. Incorporar um personagem infantil ou pintar o sete num jardim secreto. Descobrir o mistério do século ou encontrar a receita mais cobiçada de todas. Aprender a cultivar um relacionamento ou a viajar pelo tempo. Pela moda. Por lugares diferentes, pelo mundo. Sou apaixonada pelas Livrarias da Travessa da vida. De tão apegada que sou por livros, me causa espécie testemunhar o triste episódio do último dia de uma livraria. Todos os seus tesouros empacotados em caixas de papelão pálidas e monótonas. Livros enterrados no vácuo da crise existencial do Brasil. São lojas de todos os tipos encerrando as suas atividades, sufocadas pelos impostos altos e pela baixa quantidade de vendas. Venda-me os olhos, mas não me faça mais sofrer com a catástrofe que está se tornando o nosso pobre, quebrado, iletrado País. São lojas de roupas, sorveterias, confeitarias... Tudo sendo aniquilado pela nossa cancerígena crise econômica. Que mata aos poucos, tudo que existe de bom. Até lojas de brinquedos são vítimas; sonhos de crianças sendo despedaçados – nem sonhos são mais respeitados. Então vejo uma livraria que costumava ir com certa frequência, encerrar a sua existência, da noite para o dia. Isso me faz sentir um enorme e maligno nódulo na garganta. O Brasil, já mal educado por conveniência política, daqui a pouco fechará a sua mente demente até para a compra de um singelo -  e inocente -livro. Uma ditadura camuflada no voto democrático comprado pela bolsa mais cara de todas - aquela custeada pelo bolso - já quase vazio - do honesto contribuinte. Desse jeito, só nos restará criar estórias esquizofrênicas nas nossas próprias cabeças desmioladas, fantasias sem alegorias. Que me parecem muito mais um pesadelo. De onde – possivelmente - nunca mais iremos acordar.

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