quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Ensaio sobre a Demência


"Abstrair e fingir demência, que é melhor." 

Li hoje essa frase no perfil de uma amiga e concordei. Ao menos, em teoria. 

Pois fingir, para mim, é algo extremamente desafiador. A energia ao meu entorno simplesmente me denunciaria. 

Ainda assim, apreciaria muito saber ignorar. 

Pregar indiferença. 

Verdadeiramente acreditar que o silêncio vale por mil palavras. 

Pode até valer, se ponderarmos bem, por mil questionamentos: de quem é vítima de tal silêncio. 

Como saber o que o outro sente, se permanece silente? 

Como adivinhar o que o outro pensa, se finge demência? 

Ou seria carência? De afetividade, atenção, quiçá, até, opinião própria? Por falta de coragem de se expor? Ou de personalidade? 

Como entender pessoas que são tudo menos si mesmas, executando o papel de personagens diversos apenas para sentir o gosto do que é viver a vida de outros?

 Pois certamente vivem um pesadelo. 

Encoberto pela utopia de propagar algo que seria perfeito se não fosse pelas imperfeições de sua alma. 

Então preferem assim, viver a vida de terceiros. 

Admirar encobertamente. 

Imitar atitudes. 

Monitorar passos. 

Ostentar títulos que inexistem. 

Fugir da realidade. 

Pois a verdade dói. 

Porque a sua verdade é de mentira. 

A ferida que tanto declara ter sido plenamente curada, sempre permaneceu aberta.

Diferente do seu interior, que é fechado para o mundo. Até para si mesmo. 

Não confio no silêncio como a melhor resposta, pois parto do princípio que a expressão da emoção é a maior demonstração da razão na sua essência. 

O caminho mais curto para a transparência. 

Deficiente não é o demente em si, mas aquele que não é transparente, dentro e fora de si mesmo. 

O tal que prefere continuar sendo a sombra da vida de outros, quando poderia refletir a luz da sua própria vida. 

Mas opta por abstrair. 

Abstrair, fingindo demência, que é melhor. 

Só não sei para quem.

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