quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Perdoar, perdoando


Perdão. 

Um ato que é empregado muito mais para o seu próprio bem do que para o dos outros.

Perdoar não pode se refletir apenas externamente. Antes de tudo, deve ocorrer internamente. 

Perdoar não é esquecer o que aconteceu. É lembrar, sem mágoa, ressentimento, sentimento de vingança pelo que ocorreu. 

É encarar a fraqueza dos demais como algo inerente ao ser humano. 

É perdoar os outros e, por que não, perdoar a si mesmo. 

É não se torturar, não tentar adivinhar a motivação por trás de comportamentos alheios. 

É deixar estar, seguindo em frente. 

Perdoar é o verdadeiro ato de amar o próximo. A si mesmo.

Perdoar em momento algum significa se sacrificar. Pelo contrário: é evitar o seu próprio sacrifício, emocional, espiritual, físico. 

Quem não perdoa adoece. Com o próprio veneno injetado pelos seus devaneios que contaminam com angústia, tristeza e raiva, cada pedacinho do seu corpo que um dia urrará por perdão, por não conseguir mais funcionar direito. 

Doenças psicossomáticas, cardíacas, e tantas outras que fazem todo o seu sistema imunológico entrar em colapso, não perdoam, se você não perdoar. 

Perdoar é doar o seu coração sem precisar fazer transplante. 

Perdoar é ganhar eternamente um punhado de ar fresco para a sua alma respirar levemente. 

Perdoar é saber que todos podem errar. Inclusive você. Que também vai precisar ser perdoado. Para o bem do próximo. 


terça-feira, 30 de agosto de 2016

O pulo da gata



Essa foto reflete o meio do caminho do maior pulo que dei na minha vida em direção ao mar.

Pode não parecer, mas essa pedra tinha a altura quase equivalente a um prédio de mais ou menos três andares. Ou seja, algo em torno de nove metros de distância em relação ao mar.

Foi numa praia perto de Whale Beach, em Sydney, que além de ser incrivelmente linda como qualquer praia australiana, tinha esse atrativo inusitado como "cortesia" de diversão a mais para os visitantes do local paradisíaco.

Na hora em que me deparei com o fim do penhasco, amarelei. "_É muito alto!" - gritei. Confesso, amedrontada.

Foi quando testemunhei duas crianças com, no máximo 8 e 10 anos cada, se jogarem sem qualquer tipo de hesitação em direção ao precipício que parecia não ter fim. Pasmem: rindo! Os pais? Aplaudindo! Fiquei estarrecida. E assim, na maior tranquilidade, pularam em seguida para encontrar sua corajosa prole láááááá embaixo. Eram locais, com certeza acostumados a praticar tal salto praticamente olímpico, sem qualquer tipo de receio de se quebrar por inteiro.

Me senti pequena de não executar tal feito. Crianças pularam! Por que não eu, uma mulher que na ocasião já era totalmente independente, maior de idade?! Por medo? Que ridículo! O medo congela. O medo te faz pensar demais. O medo impede você de chegar lá. Láááááá longe.

Já crianças? Nascem livres. Espontâneas. Vivem naturalmente intensamente, pois nada lhes é indiferente. Tudo é envolvente.

Então respirei fundo. Recuei alguns passos para trás, e corri. Deu até para sentir aquele frio na barriga típico de montanha-russa, quando estava caindo. Parecia não acabar nunca! Então, "pum", finalmente mergulhei, ainda incrédula, no azul congelante do mar.

Devido à pressão da queda, entrou água em lugares que nunca imaginava serem possíveis de serem alcançados no corpo de alguém. Lavei literalmente a alma.

Cheguei cambaleando na areia, depois de nadar com os braços tremendo devido à adrenalina sentida há pouco. Em puro êxtase. Parecia estar sob efeito de drogas pesadas, sem ter efetivamente me drogado.

Fiquei rindo sozinha, orgulhosa de mim.

Simplesmente deixei o medo de lado.

Mergulhei fundo.

E me permiti viver intensamente.

#euarenata

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A lagarta de amanhã


"Hoje, a lagarta que se arrasta no chão, será, amanhã, a borboleta que voará no céu". Li essa frase de efeito numa publicação qualquer a qual dissertava sobre superação. 

Quantas vezes nos sentimos como uma lagarta letárgica, que parece não vislumbrar qualquer tipo de esperança na concretização do objetivo almejado, qual seja: de ser reconhecido, se tornar bem sucedido, chegar a algum destino. 

Nos arrastamos sem ânimo, sem fôlego, sem discernimento, sugados pelo vácuo da nossa falta de motivação, sobrevivendo aparentemente no modo automático. 

Respiramos, andamos, comemos, sentamos, dormimos, ao invés de efetivamente inspirarmos, levitarmos, degustarmos, relaxarmos, sonharmos. 

Sempre naquela retórica de que estamos seguindo o nosso curso sem nunca sair de curso. Perdidos no vício do gerundismo. "Estou indo". "Planejando". "Resolvendo". Quando todos esses verbos já deveriam ter sido conjugados no pretérito perfeito. 

Seria perfeito conseguir pular a etapa da lagarta presa na letargia das suas ações e alcançar de imediato a leveza que é voar com as asas do presente indicativo conjugado pela borboleta cintilante que existe em cada um de nós. 

Eu canto. 

Tu amas. 

Ele sonha. 

Nós ajudamos.

Vós sabeis. 

Eles voam. De dentro do casulo, para o mundo. 

Nunca se esquecendo que muitas vezes nos sentiremos no chão, como lagartas rastejando no limbo do gerúndio. 

Mas sempre lembrando que um dia conseguiremos voar alto, nas asas presentes na beleza das borboletas.

 #euarenata

Baú da Felicidade



"_ Pensa que você acabou de ganhar na Mega Sena!", sugeriu o fotógrafo da sessão sessão de fotos em questão, visando tentar capturar nas suas lentes o flagrante de alguém que acabou de ser surpreendido com a notícia de que se tornou milionário, do dia para a noite. 

A minha reação imediata foi gargalhar ao acaso. 

Como deve ser essa sensação? De nunca mais ter que se preocupar com questões financeiras? 

Não que em alguma ocasião tenha me faltado algo, e sou diariamente (e fortemente) grata por isso. Mas, convenhamos, seria um quesito a menos na nossa lista de afazeres do cotidiano, certo? 

O item "trabalhar para ganhar dinheiro" seria sem qualquer tipo de hesitação descartado por muitos. Trabalhar? Só se fosse por hobbie, para ocupar o tempo, no meu horário, nas minhas condições. 

Não seria uma maravilha? Mas aí não se enquadraria no conceito de trabalho e sim no de diversão. Só que por que nos condicionamos a ter que ganhar tanto para aí pensarmos em gozar de um pouco de felicidade? Se é que ela existirá de fato lá na frente. 

Pois a felicidade não vem com selo de garantia.

É imediata. 

É o agora! 

Ela demanda uma única ação: deixá-la viver o momento. 

Dentro e fora de você. Para também contagiar outros que precisem de um afago de alegria na alma. 

Não podemos deixar a nossa felicidade internada na UTI e só lhe permitir ter alta no trecho alto, dos altos e baixos da nossa existência. 

Ela deve existir sempre, principalmente quando se está para baixo, pois ela é quem será responsável por levantar a sua cabeça em direção à luz e te fazer gargalhar. Com muito, com pouco. 

Não há felicidade reprimida, existe sim felicidade que não é plenamente vivida. 

ode-se ter todo o dinheiro do mundo, que claro, propicia uma melhor qualidade de vida, em todos os sentidos. 

Contudo, não se pode comprar tudo com uma conta bancária gorda. 

Existem itens, princípios, sentimentos que são inegociáveis. 

Por isso se me perguntassem: você trocaria toda a felicidade do mundo por dinheiro? 

Eu simplesmente gargalharia...

Se ela dança, eu danço...


"The Power Lady"...

 "Sem você essa festa não teria a menor graça"... 

"A maior dançarina do evento"... 

Não, não se está falando nem da Beyoncé nem da Madonna. 

Nem sobre vodka, ou cerveja - que sempre conferem uma diversão extra a qualquer entretenimento. 

Direto do túnel do tempo, encontrei este desenho na minha caixa de recordações. Ilustrado por um caricaturista contratado para uma festa de aniversário de uma empresa que trabalhei por muito tempo. 

O rapaz desenhava as pessoas do local, inserindo dizeres de acordo com o que enxergava com sua ótica artística. 

E eu fui surpreendida com esse enérgico presente. Enérgico, pois sei que nem de perto sou a melhor dançarina de todas. 

By the way, consegui atingir o feito de ser expulsa da aula de balé moderno, por faltar o mínimo de desenvoltura, coordenação motora, concentração, em todos os aspectos pertinentes a tal arte. 

Não, não tocou em nenhum momento rock, de modo a alavancar ainda mais a minha alegria por estar ali. Pelo contrário: só rolou samba, funk e afins. Ahh, mas só o fato de ter sido chamada de "Garota Poderosa", me senti automaticamente afortunada, próspera e fortemente feliz. 

Saber que danço como ninguém, e que, sem mim, essa festa não teria sido nadica de nada... Elevou a minha autoestima à infinita potência!

 Estou intragável demais para você? Metida demais? Esnobe demais para você continuar tendo interesse de ler este post? Mas, peraí! Não me deixe! Vou te contar um segredo. Ou melhor, confessar um fato: o meu ego não resistiria a tamanho abandono. 

Ele é "de menor". Uma criança, que precisa ser constantemente paparicada, alimentada, amada. 

Faz bem ao ego "se achar". O tal, o melhor. 

Se ache, se desencontrando das suas inseguranças. 

Se procure, se perdendo dos seus defeitos. 

Dance buscando nada mais do que a sua própria felicidade. 

Mirando no seu poder interno. 

Seu valor. Lembra? 

Sem você, qualquer festa fica sem graça. 

Os holofotes não acendem. 

Sem você se achando, ninguém te encontra. 

Muito menos a vida.

#euarenata

Previsão do tempo: chuva de palavras



"As palavras têm a leveza do vento e a força da tempestade" (Victor Hugo). 

Muitos me perguntam se o que escrevo é baseado em experiências pessoais. Claro, respondo. 

Afinal, de onde extraímos as nossas vivências senão do cotidiano? 

Mas, veja bem: sempre se fala do milagre, nunca do santo. Ou dos santos. Sim, porque podemos viver o mesmo tipo de sensação - boa ou ruim - com diversas pessoas diferentes. Próximas demais, ou distantes de menos, não importa. 

O importante, na minha opinião, é colocar para fora. De maneira objetiva, sem atingir especificamente ninguém em específico. 

Pois a intenção aqui não é causar uma tempestade externa, mas especialmente evitar uma interna. 

Palavras entaladas causam câncer. 

Mentiras machucam. 

A verdade liberta. 

Quantas pessoas vivem na negação? Alegam que estão sempre ótimas: com tudo, com todos. 

Como isso pode ser possível? A Suíça em pessoa? A legítima diplomacia bípede? Como ficar eternamente em cima do muro? Como nunca se sentir triste? Como é possível representar a perfeição em carne e osso? Como nunca sofrer? Como nunca ficar ressentida? 

Pior é que sempre nos deparamos com seres leves em aparência. Porém, pesados na consciência. Que buscam se redimir sempre da forma mais inusitada e incompreensível possível. Sem serem muito claros nas suas intenções pois acreditam que possam causar uma tempestade se forem transparentes demais nas suas atitudes.

Mas não dizem que após toda tempestade vem a calmaria? Pronto. Cheguei ao ponto. 

Muitas vezes é melhor causar um furacão de acusações, exposições e reclamações, e consequente conscientização, assimilação e perdão, do que viver numa infinita tempestade íntima disfarçada numa leveza ensaiada. Certamente muito pesada para se sustentar, por muito tempo.

 Às vezes é simplesmente necessário deixar o tempo virar e o vento bater. E deixar tudo se esclarecer. Por dentro. Para fora.

"Meu Querido Diário..."


Ontem encontrei, por acaso, o meu primeiro diário. 

O ganhei quando ainda morava nos EUA, mas somente passei a escrever nele quando estava na Argentina. 

Não me recordava de diversas passagens que ali se encontravam registradas, mas achei interessante transcrever algumas hilárias - sob a ótica de como criança encara tudo. 

São da época que eu já morava no Brasil, mas o meu português ainda deixava a desejar, portanto, perdoem os erros grotescos de gramática: 

"19/05/87 - Finalmente cheguei "a" Brasil. Adoro o Brasil. Já estou com "saldade" das minhas amigas da Argentina. Que pena que as amigas da Argentina "não seria" do Brasil por que se "seria", seria muito melhor."

"31/10/87 - Hoje viajei para São Pedro "Aldeia" e teve um trânsito que quase desmaiei. Quando cheguei caí no mar, mas com "maior", porque tinha um menininho do vizinho olhando para mim. Até logo, "dicionário". 

"13/10/88 - Oi Diário! Hoje fui para Angra no "Clube Mediterrannê" e senti um pouco de dor de ouvido mas não falei nada para o meu pai porque ele ficaria "estérico"!" 

"20/08/89 - Hoje fiquei "chatiada" às 7:00 da noite porque a minha mãe não deixou eu fazer hipismo. Ela diz que pessoas só podem fazer hipismo quando "começa" desde cedo e tem mais, quando se é baixinho. Querido Diário, por favor me deseje boa sorte para que eu consiga "convenser" a minha mãe para ela me deixar fazer hipismo. "Obrigado" eu sei que você vai tentar."

 "09/04/1990 - Querido Diário, quero lhe falar uma coisa importante: você sabe que no Brasil tem agora muitos assaltos em casa, então eu quero me "previnir". Código onde está o meu dinheiro: Perdigão: eu/ livro segredo: outro diário trancado à chave/ local: lugar onde coloca coisas expostas (estante)."

 "16/01/1991 - Hoje começou a guerra entre USA e Iraque, que coisa mais horrível, né? Em vez deles se preocuparem em acabar com a fome e a violência do mundo, fabricam mais ainda com essa guerra boba! Queria falar com o presidente Bush que acho o USA muito metido. Ele devia deixar o Iraque invadir o Kwait e pronto, ficar no seu canto. Por isso que eu gosto do Brasil! Ele não incomoda ninguém. Depois te conto como terminou essa tolice." :-)

E você? Já teve um diário?